Há poucos meses foi feita uma avaliação do livro de minha
autoria intitulado “Humanização da Medicina e seus Mitos”, de 2005, a pedido de uma
editora, por um avaliador anônimo.
O avaliador foi muito crítico ao fato de eu ter usado como
referência bibliográfica uma obra de Junito de Souza Brandão (a quem ele chamou
de “Juanito”), de certa forma desqualificando esse estudioso brasileiro.
Parece que essa consideração teve uma dose de preconceito com
um autor brasileiro, Junito, que se propôs a estudar um assunto de amplitude universal
como a Mitologia Grega. A crítica ainda poderia se dever à menção bibliográfica,
em livro de 2005, de um autor que morreu em 1995. O que diríamos estão de Jung
que morreu em 1961? Talvez o avaliador não seja da área de Ciências Humanas,
pois os métodos de estudo e pesquisa em Ciências Humanas não são os mesmos de
Ciências Biológicas ou de Ciências Exatas, pois nestas se trabalha apenas com
as publicações muito mais recentes, sob o permanente risco de não estar up to date. Além disso, devemos frisar que o livro “Humanização da Medicina
e seus Mitos” não buscou esgotar o assunto Mitologia e centrou-se mais na questão
da humanização em saúde e na sociedade. Como parece haver certo desconhecimento
sobre Junito, vamos lembrar um pouco desse estudioso e sua obra.
Junito de Souza Brandão nasceu na cidade de Aperibé, no
Estado do Rio de Janeiro, em 1924. Ele destacou-se na escola da zona rural,
onde poucos concluíam o ensino fundamental. Nessa ocasião sua professora
declarou que não tinha mais o que lhe ensinar, pois ele já tinha adquirido o
mesmo conhecimento que ela. Passou então ao Colégio Anchieta de Nova Friburgo. Tornou-se
bacharel em Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do
Rio de Janeiro em 1948. Depois fez o
Curso de Arqueologia, Epigrafia e História da Grécia na Universidade de Atenas.
Era licenciado em Letras Clássicas. Fez também Curso de Direito. Fez Doutorado
e Livre Docência em Literatura Grega. Lecionou na PUC do Rio de Janeiro, onde,
em 1960, o Diretor do Curso de Filosofia criou a “Cátedra de Mitologia Grega e
Latina”, uma inovação no país, chefiada por Junito.
Junito lecionou por 45 anos também em outras instituições
além da PUC do Rio de Janeiro, como UERJ, Universidade Gama Filho, Universidade
Santa Úrsula, PUC de São Paulo e na Sociedade Brasileira de Psicologia
Analítica, entre outras.
Sua obra mais famosa é “Mitologia Grega” em três volumes pela
Editora Vozes. Outras obras são: “Teatro Grego: Tragédia e Comédia”; “Dicionário
Mítico-Etimológico”; “Os Idílios de Teócrito e as Bucólicas de Virgílio”. Fez
traduções do Grego: “Duas Tragédias Gregas: Édipo Rei (Sófocles), Hécuba
(Eurípides)”; “O Cíclope (Eurípides)”; “As Rãs”; “As Nuvens e as Vespas
(Aristófanes)”.
Foi membro da Academia Brasileira de Filologia, da Sociedade
Propagadora das Belas Artes, da Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos, do
Instituto Internacional de Heráldica e Genealogia. Foi também Diretor da
Academia Brasileira de Teatro do Rio de Janeiro de 1956 a 1971.
Junito de Souza Brandão faleceu no Rio de Janeiro em 15 de Maio
de 1995.
Carlos Byington, médico psiquiatra e analista junguiano, escreveu
o prefácio de “Mitologia Grega”, onde, no último parágrafo, comenta sobre
Junito de Souza Brandão: “Para encerrar, uma palavra diretamente sobre este
livro e seu Autor. Esta obra nos traz o tesouro simbólico da cultura grega
através de alguém que se dedicou ao seu estudo e ao seu ensino por mais de
trinta anos. Quem já teve o privilégio de frequentar os cursos deste mestre,
teve certamente a oportunidade de perceber que a delicadeza e o carinho com que
transmite seus ensinamentos se respaldam na força do estudo, da pesquisa e da
erudição. Junito de Souza Brandão, em sua vida dedicada ao ensino de culturas
antigas, principalmente da greco-romana, tem expressado entre nós a essência do
arquétipo do professor que tempera aquilo que transmite aos seus alunos com o
amor que ele próprio sente pelo conhecimento transmitido. Ao proceder assim, o
mestre se transforma em sacerdote, pois os fatos que ensina viram símbolos da
atividade imemorial da humanidade em direção à totalidade através da cultura. É
o produto desta dedicação de uma vida que temos à nossa frente. Desejo ao
leitor bom proveito”.
Na nota da sétima edição de “Mitologia Grega”, de 1991, Junito
acentuou ter feito modificações e acréscimos em sua obra, principalmente quanto
aos aspectos etimológicos, que compilou na obra “Dicionário Mítico-Etimológico”,
em dois volumes, pela Editora Vozes. Isso mostra seu contínuo aprimoramento
enquanto viveu.
A PUC-Rio prestou homenagem a Junito de Souza Brandão em
evento especial em 13 de Setembro de 2013.
Bibliografia consultada:
Brandão, J. S. – Mitologia Grega (3 volumes). Editora Vozes,
17ª edição, 2002.
Verbete sobre Junito de Souza Brandão no Sistema de
Bibliotecas da PUC-Rio.
Verbete sobre Junito de Souza Brandão na Wikipedia.