sábado, 16 de julho de 2016

Por que a mídia falada (rádio, tv, internet) não usa mais pronomes oblíquos?


     No rádio, na televisão, na internet é cada vez mais raro ouvir-se pronomes pessoais do caso oblíquo. Assim ouvimos, por exemplo, “pegar ele” e não “pegá-lo”, ou “levar ela” e não “levá-la”, e assim por diante. Com isso, a tendência é diminuir a complexidade da língua portuguesa e atrofiar os circuitos cerebrais envolvidos com linguagem verbal.
     A norma culta da língua portuguesa foi estabelecida com o passar do tempo por razões de lógica, de estética, de correção, de erudição, de conhecimento, de tradição, etc. Todos esses fatores implicam na complexidade do pensamento humano, do cérebro humano e sua capacidade de aprimorar, de detalhar, de se desenvolver, e o ser humano de maravilhar-se.
     Agora grassam reducionismos tais, de modo que quando uma autoridade pública usa uma “mesóclise” todos ficam muito admirados e se perguntam como lhe teria ocorrido tão difícil construção de palavras...  
     Admiremo-nos então do uso de pronomes oblíquos, das próclises, mesóclises e ênclises outrora comuns, agora rebuscadas. 

domingo, 3 de julho de 2016

Poesia de Augusto dos Anjos


A Ideia

De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!

Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!

Vem do encéfalo absconso que a constringe
Chega em seguida às cordas da laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...

Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica!


Debaixo do Tamarindo

No tempo do meu Pai, sob estes galhos,
Como uma vela fúnebre de cera,
Chorei bilhões de vezes com a canseira
De inexorabilíssimos trabalhos!

Hoje, esta árvore, de amplos agasalhos,
Guarda, como uma caixa derradeira,
O passado da Flora Brasileira
E a paleontologia dos Carvalhos!

Quando pararem todos os relógios
Da minha vida, e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando à pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade
A minha sombra há de ficar aqui!


Fonte bibliográfica: Augusto dos Anjos – poesia. Por Antonio Houaiss. Coleção Nossos Clássicos. Direção de Alceu Amoroso Lima, Roberto Alvim Correa e Jorge de Sena. Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1968.