domingo, 14 de maio de 2017

Um texto do escritor Matias Aires


   Mas se é certo que a vaidade é vício, parece difícil o haver virtude que proceda dele; porém não é difícil quando ponderamos que há efeitos contrários às suas causas. Quantas dores há, que se formam do gosto, e quantos gostos, que resultam da dor! Essa infinita variedade dos objetos tem a mesma causa por origem: as diferentes produções que vemos, todas se compõem dos mesmos princípios, e se formam com os mesmos instrumentos. Algumas coisas degeneram, à proporção que se afastam do seu primeiro ser; outras se dignificam, e quase todas vão mudando de forma, à medida que vão ficando  distantes de si mesmas. As águas de uma fonte, a cada passo mudam; porque apenas deixam a brenha, ou rocha donde nascem, quando em uma parte ficam sendo limo, em outra flor, e em outra, diamante. Que outra coisa mais é a natureza, do que uma perpétua e singular metamorfose?

Fonte bibliográfica:
Texto da obra “Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, ou Discursos Morais sobre os efeitos da Vaidade”(1752) in “Matias Aires – Trechos Escolhidos”, por Adriano da Gama Cury e Pedro Luiz Masi. Coleção Nossos Clássicos. Direção de Alceu Amoroso Lima, Roberto Alvim Correa e Jorge de Sena. Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1962. 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Dados biográficos do escritor Matias Aires


1705 – Nasce, em São Paulo, Matias Aires Ramos da Silva de Eça, filho de José Ramos da Silva, provedor da Casa da Moeda de Lisboa, e de Dona Catarina da Horta.

1716 – Segue para Lisboa, onde cursa o Colégio de Santo Antão.

1722 – Matricula-se no Curso de Leis da Universidade de Coimbra.

1728 – Viagem por Madri e depois para Baiona, onde estuda Hebraico, Ciências Físicas e Matemática.  Aí faz amizade com o Infante D. Manuel.

1729 (?) – Segue para Paris, onde se diplomou “em ambos os direitos”, numa permanência de mais de cinco anos.

1733 – Data provável de seu regresso a Portugal.

1742 – Nasce seu filho José, de suas relações com D. Helena Josefa da Silva.

1743 – Em 18 de dezembro morre seu pai, que deserdara a filha D. Teresa Margarida da Silva e Horta – autora do primeiro romance brasileiro, As Aventuras de Diófanes – por ter a mesma casado, contra a vontade paterna, com Pedro Jensen Moler van Praet. Matias Aires opõe-se com todo empenho a que a irmã, que se afastara da família, receba alguma coisa. Ela, por sua vez, o acusava por dilapidar os bens da família com sua viagem à França. Neste mesmo ano, Matias Aires adquire o palacete dos Condes de Alvar, conhecido como o Palácio das Janelas Verdes.

1744 – É nomeado Provedor da Casa da Moeda, cargo que era ocupado por seu pai.

1748 – Nasce seu segundo filho, Manuel Inácio, que, juntamente com o irmão mais velho, terão dedicação maternal de parte de Teresa Margarida, a qual, depois de asenviuvar (ou pouco antes), se reconciliara com o irmão.

1752 – Data da primeira edição de “Reflexões sobre a Vaidade dos Homens”. Neste ano se publica também o romance da irmã (que usa o anagrama Dorothes Engrassia Tavareda Dalmira), então com o título “Máximas de Virtude e Formosura”.

1761 – Circula a segunda edição de “Reflexões”. Matias Aires é demitido pelo Marquês de Pombal, das suas importantes funções de Provedor da Casa da Moeda.

1763 – Morre, em 10 de dezembro, de apoplexia.


Fonte bibliográfica:
Matias Aires – Reflexões sobre  vaidade dos homens” – Trechos Escolhidos. Por Adriano da Gama Kury e Pedro Luiz Masi. Coleção Nossos Clássicos . Sob direção de Alceu Amoroso Lima, Roberto Alvim e Jorge de Sena. Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1962.