domingo, 12 de julho de 2015

Poesias de Raul Leôni


Crepuscular

Poente no meu jardim... O olhar profundo
Alongo sobre as árvores vazias,
Essas em cujo espírito infecundo
Soluçam silenciosas agonias.

Assim estéreis, mansas e sombrias,
Sugerem à emoção em que as circundo
Todas as dolorosas utopias
De todos os filósofos do mundo.

Sugerem... Seus destinos são vizinhos:
Ambas, não dando frutos, abrem ninhos
 Ao viandante exânime que as olhe.

Ninhos, onde vencida de fadiga,
A alma ingênua dos pássaros se abriga
E a tristeza dos homens se recolhe.


História antiga

No meu grande otimismo de inocente,
Eu nunca soube por que foi... um dia,
Ela me olhou indiferentemente,
Perguntei-lhe por que era... Não sabia...

Desde então transformou-se de repente
A nossa intimidade correntia
Em saudações de simples cortesia
E a vida foi andando para a frente...

Nunca mais nos falamos... vai distante...
Mas, quando a vejo, há sempre um vago instante
Em que seu mudo olhar no meu repousa,

E eu sinto, sem no entanto compreendê-la,
Que ela tenta dizer-me qualquer cousa,
Mas que é tarde demais para dizê-la...


Artista

Por um destino acima do teu Ser,
Tens que buscar nas cousas inconscientes
Um sentido harmonioso, o alto prazer
Que se esconde entre as formas aparentes.

Sempre o achas, mas ao tê-lo em teu poder
Nem no pões na tua alma, nem no sentes
Na tua vida, e o levas, sem saber,
Ao sonho de outras almas diferentes...

Vives humilde e inda ao morrer ignoras
O Ideal que achaste... (Ingratidão das musas!)
Mas não faz mal, meu bômbix[1] inocente:

Fia na primavera, entre as amoras,
A tua seda de ouro, que nem usas
Mas que faz tanto bem a tanta gente...


[1] Bicho da seda. 

sábado, 11 de julho de 2015

Dados Biográficos do escritor Raul de Leôni


1895 – 30 de Outubro: Nasce, em Petrópolis, Estado do Rio, Raul de Leôni Ramos, filho do magistrado Carolino de Leôni Ramos e de D. Augusta Villaboim Ramos.

1903 – Cursa o Primário e a seguir o Secundário, no Colégio Abílio, na Capital Federal.

1910 – 11 de setembro: Faz a primeira comunhão, aos 15 anos de idade, na Capela do Colégio São Vicente, dos Padres Premonstratenses, em Petrópolis, onde se encontra internado.

1912 – Matricula-se Raul de Leôni na Faculdade Livre de Direito do Distrito Federal, colando grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais quatro anos após.

1913 – 9 de abril: Parte Raul de Leôni para a Europa, aos 18 anos, indo visitar a Inglaterra, a França, Itália, Espanha e Portugal.

1914 – De volta do Rio de Janeiro, inicia colaboração literária nas revistas “Fon-Fon” e “Para-Todos”, colaborando mais tarde em “O Jornal” (1919), no “Jornal do Commercio” e no “Jornal do Brasil”.

1918 – 13 de março: É nomeado por Nilo Peçanha, Ministro das Relações Exteriores no governo Wenceslau Brás, para o cargo de 2º secretário da Legação do Brasil em Cuba, não chegando a assumir, regressando da Bahia.

1919 – Após declinar da sua declinação para cargo idêntico, em nossa Legação junto ao Vaticano, é eleito deputado à Assembleia Fluminense.

1919 – Publica o seu primeiro livro de poesias, a “Ode a um poeta morto”, dedicado à memória de Olavo Bilac.

1921 – 6 de abril: Casa-se em Petrópolis, com D. Ruth Soares Gouvêa, que havia conhecido, três meses antes, num baile do Itamarati.

1922 – Publica o seu livro clássico “Luz Mediterrânea” e começa a colaborar no jornal “O Dia”, de Virgílio de Mello Franco e Azevedo Amaral.

1923 – Adoece do pulmão, abandonando o convívio de parentes e amigos e indo para Correias e a seguir, Itaipava, licenciando-se do cargo de inspetor na Companhia de Seguros em que trabalhava.

1926 – 21 de novembro: Morre, na “Vila Serena”, em Itaipava, Raul de Leôni, sendo conduzido o seu corpo, em derradeira viagem, para Petrópolis, que lhe presta as suas últimas homenagens, sepultando-o à sombra do Cruzeiro das Almas, erigindo-lhe um mausoléu e dando o seu nome a um trecho da Rua Sete de Setembro.


Fonte bibliográfica: Raul de Leoni - trechos escolhidos. Por Luiz Santa Cruz. Coleção Nossos Clássicos. Publicados sob a direção de Alceu Amoroso Lima, Roberto Alvim Corrêa e Jorge de Sena. Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1961.