sábado, 10 de outubro de 2015

Martins Fontes – Poesia 2


Crepúsculo

Alada, corta o espaço uma estrela candente.
As folhas fremem. Sopra o vento. A sombra avança.
Paira no ar um langor de mística esperança
e de doçura triste, inexprimivelmente.

À surdina da luz irrompe, de repente,
o coro vesperal das cigarras. E mansa,
E marmórea, no céu, curvo e claro, balança,
Entre nuvens de opala, a concha do crescente.

Na alma, como na terra, a noite nasce. É quando,
da recôndita paz das horas esquecidas,
vão, ao luar da saudade, os sonhos acordando...

E, na torre do peito, em plácidas batidas,
melancolicamente, o coração chorando,
plange o réquiem de amor das ilusões perdidas.
                                                                        (Verão)

Fonte bibliográfica: Martins Fontes - Poesia. Coleção Nossos Clássicos. Direção de Alceu Amoroso Lima e Roberto Alvim Correa. Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1959. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário