domingo, 14 de maio de 2017

Um texto do escritor Matias Aires


   Mas se é certo que a vaidade é vício, parece difícil o haver virtude que proceda dele; porém não é difícil quando ponderamos que há efeitos contrários às suas causas. Quantas dores há, que se formam do gosto, e quantos gostos, que resultam da dor! Essa infinita variedade dos objetos tem a mesma causa por origem: as diferentes produções que vemos, todas se compõem dos mesmos princípios, e se formam com os mesmos instrumentos. Algumas coisas degeneram, à proporção que se afastam do seu primeiro ser; outras se dignificam, e quase todas vão mudando de forma, à medida que vão ficando  distantes de si mesmas. As águas de uma fonte, a cada passo mudam; porque apenas deixam a brenha, ou rocha donde nascem, quando em uma parte ficam sendo limo, em outra flor, e em outra, diamante. Que outra coisa mais é a natureza, do que uma perpétua e singular metamorfose?

Fonte bibliográfica:
Texto da obra “Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, ou Discursos Morais sobre os efeitos da Vaidade”(1752) in “Matias Aires – Trechos Escolhidos”, por Adriano da Gama Cury e Pedro Luiz Masi. Coleção Nossos Clássicos. Direção de Alceu Amoroso Lima, Roberto Alvim Correa e Jorge de Sena. Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1962. 

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