A obra “Margem”, de Guilherme de Almeida, corresponde a um livreto que reúne o que podem ser alguns dos últimos poemas do autor, escritos em 1968-1969. O livreto original tinha capa composta pelo autor e poemas datilografados em formatos próprios nas páginas. Essa obra foi publicada como um livro inédito em 2010 devido ao trabalho de Marcelo Tápia, estudioso de Guilherme de Almeida.
O estudioso, na apresentação de “Margem”, acentua que este pequeno volume contraria aqueles que atribuíram a Guilherme o “rótulo estático de conservador e de apegado a um passadismo insuperado, de autor de obra tardiamente parnasiana e apenas episodicamente inserida no modernismo”.
Refere então Marcelo Tápia que o autor mantém suas concepções, como a de que “poesia é ritmo”, bem como, além de cultivar a tradição da poesia ocidental e oriental, não ficou indiferente a novas possibilidades.
O estudioso lembra então o livro-poema “Raça”, de 1925, onde o espaço da página e recursos tipográficos foram também características dessa obra, apontando para a nova poesia europeia de fins do século XIX e início do século XX.
Assinala Marcelo Tápia que a poesia de “Margem” remete-se à poesia construtivista surgida na década de 1950, com o uso conciso de elementos aliado à densidade de significação.
Outros comentários sobre essa obra podem ser lidos no próprio livro publicado em 2010 pela Casa Guilherme de Almeida e pela Editora Annablume. Consta também interessante posfácio de Carlos Vogt.
Abaixo alguns poemas de “Margem”.Nós
Só no
nosso
sono
somos
sós: só
nós, só
sono.
Da rima
Mima,
dobra,
lima a
rima!
Sobra
obra-
prima.
Os românticos
Míticos
místicos,
límpidos
Ímpetos,
lívidos
ídolos,
dignos
signos,
líricos
tísicos.
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