sábado, 29 de dezembro de 2012

Fernanda Torres escritora

Em 28 de dezembro de 2012, foi publicado na Folha de São Paulo o texto de autoria da atriz Fernanda Torres intitulado “Ben-Hur”.
A autora inicia seu texto com uma informação com certo tom de confissão, mas com autêntica sinceridade, na revelação que poderia soar “politicamente incorreta” de sua admiração por Charlton Heston como ator.
Heston, em sua vida pessoal, migrou de democrata que marchou ao lado de Martin Luther King para feroz republicano e importante membro da Associação Nacional do Rifle dos Estados Unidos. Deixou perplexos aqueles que viam nele uma espécie de herói-profeta-austronauta... Há mesmo que se perguntar se sua deficiência cognitiva, que viria a ocorrer, já não teria começado aí e que, além de fatores biológicos, sua doença talvez não tivesse sido também decorrente da “sobrecarga humana” proveniente de ter vivido personagens tão densos e imensos... Parece que ele ultrapassou algum tipo de limite humano em virtude disso e, de certa forma, teria que pagar por isso, em uma sina um tanto prometeica...
Aliás, perplexidade e complexidade em relação ao humano são palavras que podem resumir o texto de Fernanda Torres.
Ela, uma atriz tão premiada, imersa na arte em família, ao fazer tais elogios ao ator Charlton Heston vem nos chamar a atenção para esse que, por alguns, foi considerado como apenas um “ator canastrão” com falas empostadas; consideração esta que pode ter sido influenciada pela postura política tardia do ator.
Fernanda nos instrui e esclarece naquilo que diz respeito a “incorporar” uma personagem, ou seja, fazer de seu próprio corpo também expressão do todo da personagem, que é algo que ela viu em Heston.
A autora também se remete a algo que é comum às pessoas de sua geração e também da geração anterior que se encantaram com o filme que por muitos anos sustentou a posição imbatível de onze óscares; adentra a uma simbologia presente no filme que, coincidentemente, eu também via de modo semelhante, além de outras tantas, de modo que sempre me perguntei se tudo aquilo era próprio da genialidade do diretor William Wyler, ou daqueles que criaram a narrativa e as cenas, ou mesmo de todos esses.
A seguir, a partir de Ben-Hur, Fernanda divaga sobre correlações e analogias da história do filme com o que tem acontecido na História do mundo passada e na atual. Nesse sentido, ela aponta para a complexidade do ser humano, que mescla seu lado sombrio e seu lado luminoso a todo tempo e em várias circunstâncias.
Sua capacidade discreta, mas incisiva, ao escrever, nos faz indiretamente lembrar que todos temos essas várias facetas, que podem se acentuar conforme o momento e as condições históricas.
A constatação dessa complexidade não implica em uma passividade diante dessa percepção, mas, pelo contrário, pode colaborar para o contínuo processo de reforçar a paz, o diálogo, o entendimento, sabendo que isso não é simples e fácil...
Talvez o Heston-Ben-Hur-Moisés venha resgatar o perdido Taylor antes que, na segunda sequência de o Planeta dos Macacos, Charlton aperte aquele tal botão que acabaria com tudo, se não fosse a mágica do espaço-tempo cinematográfico...

Nenhum comentário:

Postar um comentário