Em 29 de Abril de 2013 foi publicado um artigo de A.P.
Quartim de Moraes no jornal O Estado de São Paulo, artigo esse intitulado “No
Rumo das Trevas”.
Ele inicia o texto comentando sobre comercial de TV no qual
um pai, “empenhado na educação do filho pequeno”, chega com três grossos livros
e coloca-os sobre a cadeira. O filho senta sobre os livros para ficar na altura
adequada para acessar o computador. Quartim de Moraes adverte então que quem
não ficou chocado com essa história pode parar de ler seu artigo imediatamente,
pois ele vai falar de “coisas fora de moda, como o livro”. Acrescenta que
considera irresponsabilidade a aprovação de tal comercial pela empresa de
telecomunicações.
O autor refere não ter dúvidas que esse comercial é
perfeitamente compatível com a “ética empresarial” do mundo dos negócios em que
“acima de qualquer valor humano predomina a implacável razão de mercado”. Diz
que algumas corporações conseguem disfarçar sua obsessão por metas de
faturamento sob certa “responsabilidade social” à qual destinam “alguns
trocados das verbas de marketing e vendas.
Ele considera então imperdoável a irresponsabilidade de desqualificar
o livro, que considera como “o maior símbolo de saber e conhecimento”. Tal
desqualificação ele acha até pior do que a queima de livros por motivos
políticos.
Diz que as conquistas tecnológicas das últimas décadas são
valorizáveis, mas que historicamente ainda não substituem plenamente o livro.
Recorda então o lançamento no fim do século XX do CD-ROM, que supostamente
viria a substituir o livro. Atualmente o e-book é esse candidato, mas
acrescenta: quem pode garantir que não surja amanhã um novo gadget que
transforme o e-book em peça de museu?
Assim, cita Umberto Eco que diz que “o livro é como a colher,
o martelo, a roda ou a tesoura. Você não pode fazer uma colher melhor do que
uma colher”.
Frisa a importância do livro para o saber e para o que
significa o ser humano, embora aqueles que ele chama de “fundamentalistas do
mercado” considerem o supra sumo da ambição humana “ter uma casa com um carro
na garagem”.
Acentua que essa visão humanística “fora de moda” só estará
sepultada no dia em que acabarem com o livro. Critica o big business editorial
para o qual livro bom é livro que vende bem. Desse modo, o publicitário e seu
cliente daquele comercial logo atingirão seu intento. Conclui assim, com
brilhante ironia, dizendo que “estaremos então penetrando as trevas depois de
termos percorrido vários tons de cinza”.
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