sexta-feira, 28 de junho de 2013

Dois Sonetos de Paulo Bomfim

Do Mormaço

Este céu de mormaço que carrego
Lona cinzenta, capa de derrotas,
Habita-se do voo das gaivotas
E armaduras de sal onde me nego.

E das contradições que sou e lego
Às ondas porta-vozes de ignotas
Solidões, descaminhos que são grotas,
O cansaço do olhar de um dia cego.

Este céu de mormaço que acompanha
A sombra debruçada sobre o muro
E o meu passeio numa terra estranha

Modela em mim a solidão mais rica,
Pois nela sou a chuva do futuro,
A água que me apaga e que me explica.

Do viver

Urge viver. Minutos audaciosos
Armam cilada aos passos repetidos.
Qualquer coisa acontece nestes idos
De tempo estranho, e nós, seres porosos,

De argila e sangue,tristes e jocosos,
Com lágrimas e risos ressentidos,
Sacudimos os guisos comovidos
Como sinal de luz sobre danosos

Desertos de aquiescência e de rotina.
Urge viver. O tempo nos apela
No fim de cada rua. Em cada esquina

Há um encontro fatal, o gesto incrível
Do pintor produzindo em nossa tela,
Algo de cotidiano e de terrível.

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