Interior
Poeta dos
trópicos, tua sala de jantar
é simples e
modesta como um tranquilo pomar;
no aquário
transparente, cheio de água limosa,
nadam peixes
vermelhos, dourados e cor de rosa;
entra pelas
verdes venezianas uma poeira luminosa,
uma poeira
de sol, trêmula e silenciosa,
uma poeira
de luz que aumenta a solidão.
Abre a tua
janela de par em par. Lá fora, sob o céu de verão,
Todas as
árvores estão cantando! Cada folha
é um pássaro,
cada folha é uma cigarra, cada folha é um som...
O ar das
chácaras cheira a capim melado,
a ervas
pisadas, a baunilha, a mato quente e abafado.
Poeta dos
trópicos,
dá-me no teu
copo de vidro colorido um gole d’água.
(Como é
linda a paisagem no cristal de um copo d’água!)
Fonte bibliográfica:
"Interior" (de "Epigramas Irônicos e Sentimentais" - 1922) em "Ronald de Carvalho - Poesia e Prosa", por Peregrino Júnior, da Coleção Nossos Clássicos, sob a direção de Alceu Amoroso Lima e Roberto Alvim Correa. Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1960.
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