Artigos na mídia a respeito dos resultados de vendas de livros
em 2012 no Brasil apontam que foram vendidos muito mais livros classificados
como “não ficção” do que os classificados como “ficção”. Alguns procuram
explicar essa diferença dizendo que as pessoas estão mais interessadas em “não
ficção” porque acham que lendo esses livros podem aprender alguma coisa... Tal
afirmação pode inferir o oposto em relação aos tais de “ficção”, ou seja, sua
leitura talvez não traga qualquer aprendizado...
De certa forma, essa noção já está um tanto implícita no uso
da palavra “ficção” para referir-se a grande parte da literatura. O termo “ficção”
faz pensar-se que se trata apenas de algo “irreal”, “apenas inventado”, “fantasias”,
e assim por diante, ou seja, algo “pouco útil”, talvez “inútil”.
Essa é uma expressão, ou mesmo uma impressão de uma sociedade
que tem uma cultura ainda em formação, que necessita elaborar essa cultura
também através da literatura, ressalvando-se toda a riqueza que a literatura
brasileira já apresenta e que pode servir de importante base e ser integrada
nessa elaboração.
A sociedade brasileira já passou por diversas instabilidades
políticas e econômicas em sua história e tem ainda importante deficiência
educacional que reforçam a constatação dessa cultura ainda em formação. A
literatura é importante nesse processo; não apenas uma literatura de acadêmicos,
mas todas as instâncias dessa forma de produção artística.
A ideia de que nada se aprende com a literatura provém de uma
divulgação errônea a respeito dessa forma de arte. Em certos aspectos, podemos
dizer que as obras literárias trazem muitas informações presentes diretamente
em seu próprio texto, além de indiretamente levarem a outros estudos, seja no
sentido de melhor entendimento da obra, quanto no despertar de certos interesses
de aprendizado por parte do leitor. Além disso, a literatura traz um profundo e
singular aprendizado sobre o ser humano e a sociedade. Obras de Cervantes,
Balzac, Victor Hugo, Fernando Pessoa, Machado de Assis, só para dizer esses
poucos, podem revelar muito mais sobre a alma humana do que a maioria dos
livros de “não ficção” somados juntos.
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