quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Querem atrofiar o nosso cérebro com a proposta de “simplificar” a língua portuguesa

Recentemente têm saído na mídia notícias de que há um movimento no Congresso Brasileiro para “simplificar” a língua portuguesa, com a suposição de que isso pode facilitar o aprendizado da língua. Esse é o tipo de simplificação que serve como exemplo de gerador de “atrofia”. 
De um modo geral, nem toda forma de simplificação significa alguma melhora no que quer que seja. Como diz Edgar Morin, filósofo da Complexidade e da Transdisciplinaridade, não se deve confundir “complicação” com “complexidade”. A complexidade é algo próprio do ser humano de acordo com suas próprias potencialidades cerebrais. 
Pessoas que exercitam mais as suas capacidades cognitivas têm menos probabilidade de serem acometidos por certos problemas de natureza cerebral. Por exemplo, pessoas com certa educação oriental, ou seja, que foram alfabetizadas em duas formas de alfabeto (o que utiliza ideogramas e o simbólico como o nosso), mais dificilmente têm quadros de afasia (perda da capacidade de expressão ou compreensão da linguagem verbal). Pessoas que praticam diversas línguas, ou mesmo linguagens não verbais, também mais dificilmente apresentam problemas cognitivos sérios, incluindo quadros demenciais.
Esse é apenas um dos motivos para não inventarem essa tal “simplificação”. Outro motivo diz respeito à nossa própria identidade cultural: a língua é mais do que apenas uma ferramenta simplificada para utilidades cotidianas. Toda a poesia e a literatura são enriquecidas pelas peculiaridades da língua portuguesa. O compositor e maestro Tom Jobim se dizia até mesmo favorável ao uso do antigo “ph” com função de “f”, já que remetia às origens das palavras em que aparecia.
É melhor continuarmos lendo, escrevendo, estudando, recitando, cantando com as belas complexidades da assim chamada “última flor do Lácio” como disse o poeta Olavo Bilac:

“Língua Portuguesa”

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que a voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


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