A Luz do Sol
Rondó II
Luz do Sol, quanto és
formosa,
Quem te goza não
conhece;
Mas se desce a noite
fria,
Principia a suspirar.
Quando puro se derrama
Vivo ardor no ameno prado,
Pelas brenhas foge o gado
Verde rama a procurar.
E se o Astro luminoso
Deixa tudo em sombra fusca,
Triste então o abrigo busca
Vagaroso a ruminar.
Luz do Sol, quanto és
formosa,
Quem te goza não
conhece;
Mas se desce a noite
fria,
Principia a suspirar.
Lavrador , que aflito, e[1]
velho
Sobre o campo endurecido,
Ver deseja submergido
O vermelho Sol no mar.
E se o úmido negrume
Tolda os Céus, e os vales banha,
Fita os olhos na montanha,
Onde o lume vê raiar.
Luz do Sol, quanto és
formosa,
Quem te goza não
conhece;
Mas se desce a noite
fria,
Principia a suspirar.
Pela tarde mais ardente
O Pastor estima as grutas,
Onde penhas nunca enxutas
Vê contente a gotejar.
E se as trevas no horizonte
Desenrolam negro manto,
Com saudoso, e flébil canto
Faz o monte ressonar.
Luz do Sol, quanto és
formosa,
Quem te goza não
conhece;
Mas se desce a noite
fria,
Principia a suspirar.
Assim Glaura[2],
que inflamada
Perseguiu Aves ligeiras,
Quer à sombra das Mangueiras
Descansada respirar.
[1]
Na pontuação do tempo, que Silva Alvarenga observa fielmente, o e como conectivo vocabular ou oracional
sempre é antecedido de vírgula.
[2]
Informa Antenor Nascentes, Dicionário
Etimológico da Língua Portuguesa, tomo II (nomes próprios), Rio de Janeiro,
1952, s. v. Glaura: “Originariamente,
nome forjado pelo poeta Manuel Inácio da Silva Alvarenga, para encobrir o da
sua amada, que talvez se chamasse Laura,
Laureana ou Clara...” Acrescentemos que é traço característico da poesia de
todos os tempos, mas, sobretudo no Classicismo em geral, encobrir, nos poemas
eróticos principalmente, o nome da mulher amada por meio de formas cognatas,
derivadas, paronímicas, ou anagramas, exatos ou livres.
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