Foi publicado no jornal “O Estado de São Paulo”, em 11 de
Novembro de 2012, o artigo intitulado “Grave Crise Existencial” de autoria de João
Ubaldo Ribeiro.
Nesse artigo, João Ubaldo Ribeiro faz uma crítica irônica da
situação de direitos autorais dos escritores que estão cada vez mais
desvalorizados.
O autor inicia fazendo considerações irônicas sobre as
variadas origens e os nomes diversos dados ao peru, como pavo, turkey, puter,
galinha de Calicute, dindon, galo da Índia... Desse modo, atenta para o “problema
de identidade” da ave.
A seguir, J.U. Ribeiro desculpa-se por esse preâmbulo, mas é
a forma que ele encontra para introduzir a respeito da situação de escritores e
artistas em que ele se vê cada vez mais envolvido. Assim, compara a situação de
quem vive de direitos autorais à situação do peru. Ou, como diz, “pior, porque
outro dia, não me lembro mais onde, li que já morremos todos”. Reforça então
que, conforme alguém disse por aí, “o autor morreu”. Dessa forma, ele não se
sente nem mesmo em condições de ser dono desse próprio artigo que está
escrevendo/publicando.
Ele tenta se soerguer “na tumba”, mas o “sagrado direito à
informação” o sepulta de novo, pois, se o que ele escreve é informação, e ele
cobra por isso, está “cerceando esse direito”.
Ora, então ele dá a entender que não é por ser sagrado o
direito de comer que o dono do supermercado vai ficar sem pagamento...
Bem, assim também é o direito à saúde e, no entanto, seus
profissionais também são remunerados.
Assim, o autor diz que o artista deveria ser então quase que
um monge com uma “generosidade intelectual” para a livre fruição de todos.
A essa altura ele então acrescenta que: “Porque a maioria dos
escritores encara com relutância a ideia de santificação inanida, somente
aqueles que têm fontes de renda poderão escrever. Quanto aos outros, que
consigam empregos com os poderosos, que cavem uma sinecurazinha, que ganhem
dinheiro nas bolsas de valores e escrevam nos momentos de lazer, mas não desçam
à infâmia de cobrar pelo que escrevem”.
A seguir ele lembra que aventa-se a possibilidade de o Estado
resolver essa questão. Faria a regulamentação da profissão... Após aprovação em
concurso o escritor portaria a “carteira de escritor”, podendo exercer a
profissão. Depois seria criado o “Conselho Editorial Nacional”, ao qual os
escritores apresentariam seus projetos, “rápido e sem pistolões ou propinas,
como é regra no Brasil”. E o Conselho estabeleceria temas de “interesse” do
país como “Saga do Pré-Sal”, ou “Mistério da Transposição de Águas do São
Francisco”.
Assinala Ribeiro que o autor receberia um “módico estipêndio
mensal”, pois trata-se de dinheiro público, além de prestar contas e fazer
modificações conforme as determinações de tal “Conselho”.
Assim, continua: “todos vão ter direitos sobre o que o autor
escrever, menos ele próprio, até porque já morreu”.
J.U. Ribeiro conclui que “ninguém estranha quando uma BBB ganha
um ou dois milhões para mostrar o traseiro e ministrar-nos palestras
filosóficas”.
Arremata então que, no entanto, se um escritor, depois de
muitos anos de trabalho, ganha um prêmio de cem mil (reais, dólares, o que seja...)
há grande perplexidade...
Finaliza então que, na próxima encarnação, vai tentar vir
como “Mulher Fruta-Pão”.
Gostei muito!
ResponderExcluirObrigado, Janete!
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