terça-feira, 7 de junho de 2016

Poesia de Raimundo Correia


(De “Sinfonias” – 1882 – livro com Introdução de Machado de Assis)

As Pombas

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada... (1)

E a tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...


(1) Desse belíssimo verso se apropriou o poeta português Antonio Nobre, cujo “Dezesseis anos”, escrito em 1883, começa assim: “Raia sanguínea e fresca a madrugada clara”.


Fonte bibliográfica: Raimundo Correia – poesia. Por Ledo Ivo. Coleção Nossos Clássicos. Direção de Alceu Amoroso Lima e Roberto Alvim Correa. Livraria Agir Editora. Rio de Janeiro, 1958.

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