(De “Sinfonias” – 1882 – livro com Introdução de Machado de
Assis)
As Pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada... (1)
E a tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
(1) Desse belíssimo verso se apropriou o poeta português
Antonio Nobre, cujo “Dezesseis anos”, escrito em 1883, começa assim: “Raia
sanguínea e fresca a madrugada clara”.
Fonte bibliográfica: Raimundo Correia – poesia. Por Ledo Ivo.
Coleção Nossos Clássicos. Direção de Alceu Amoroso Lima e Roberto Alvim Correa.
Livraria Agir Editora. Rio de Janeiro, 1958.
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